Catando Inquietudes...

domingo, 28 de novembro de 2010

Comida fashion de ativistas

Domingo, três da tarde. Um sol de rachar. Centro de São Paulo. Meu humor estava longe de ser agradável. Parecia que eu estava a caminho da forca e não do Fashion Mob. Drama. Sei. Minha autoestima não parava de cutucar meu pensamento. O que eu estava fazendo ali? Já não bastasse meu espelho, eu realmente precisava ver aquelas modelos de perto e ter certeza de que estou longe de qualquer nível de beleza?

Tá. Confesso que a situação logo mudou. Não vou nem mentir, mas quando vi que aquelas meninas, mulheres e afins não eram assim tããããão bonitas (e que havia até algumas moças mais “fofinhas” desfilando), eu tive um up e arrumei energia, de não sei onde, e consegui esquecer completamente de mim. Só me preocupava em tirar fotos. Só queria conquistar o ângulo mais legal. Minha presença poderia até ser notada pelas outras pessoas, mas por mim, tinha passado totalmente despercebida.

Clicks e mais clicks tirados, estava na hora de ir embora. Eu já estava morta. Não conseguia nem raciocinar direito. Enquanto eu esperava meus amigos aparecerem, me vi de um lado de um grupo de mulheres e homem de vermelho que seguravam bandeiras com algo escrito. Algo que, àquela altura do campeonato, eu não conseguia nem ler. Eu tava realmente cansada. Eis que a curiosidade falou mais alto.

– Licença, vocês são o quê?

– Somos ativistas. STOP CRUELTY. Estamos fazendo um manifesto contra o uso de peles na moda.

– Ahh.... – interessante. Mas eu estava cansada demais para interagir e continuar a conversa, muito menos para entrar num debate. Acho que a moça percebeu.

– Entra no nosso site. Lá tem mais coisas sobre nós. – disse, me entregando um folhetinho. – Estamos colhendo assinaturas, se você quiser participar...

– Claro! – Eu resolvi assinar porque, realmente, não sou a favor do uso de pele de animais, mas não reparei na mudança de postura daquela moça, que até então parecia bem simpática.

– Você é contra isso, não é? – me perguntou, enquanto eu lutava para lembrar o número do meu RG.

– Contra o quê? – eu não conseguia nem raciocinar direito e me concentrar no papel e aquela mulher vinha me torrar a paciência com perguntas.

– Contra a matança de animais para uso da pele...

– Ah, claro! Sim, sou contra! – eu continuava tentando terminar de preencher a tal ficha.

– Você sabe de onde vem a madrepérola? – perguntou, agora já bem perto de mim e com os olhos fixos na minha orelha.

Oi? Como é que é? Mas eu não tava nem com pérola! De onde ela tirou isso? Eu não conseguia nem lembrar meu RG e aquela criatura queria saber de onde vinha a madrepérola? Faça me o favor! Não. Eu realmente não conseguia pensar, naquele momento, de onde vinha a bendita madrepérola.

Foi então que me liguei. Ela estava falando do meu brinco. Meu brinco era de madrepérola. Mas eu nem sabia disso quando o comprei. Comprei porque achei bonitinho, não porque ele era feito disso ou daquilo.

– Ah, não! Por favor, não começa! Não implica com o meu brinco!

A outra moça, que tirava foto da minha cara de besta que assinava um manifesto contra um crime que eu mesma estava ajudando a cometer (com o meu brinco), deu risada e falou para amiga deixar de ser cruel, que não precisava pegar pesado comigo.

Eu não conseguia mesmo me lembrar do meu RG, e depois da pressão sofrida “na minha orelha”, a coisa tava ainda pior.

– Relaxa, você não vai ser presa por usar madrepérola. O que é uma pena.

Totalmente sem graça, lembrei o número. Terminei de assinar, entreguei a ficha pra mulher e saí dali o mais rápido possível.

Fala sério, só comigo acontece essas coisas. Achei meus amigos e fui pro metrô. Meu trabalho ali já estava done e antes que eu pagasse mais mico, resolvi voltar pra casa mesmo.



Ah, se quiserem, confiram as fotos do evento. Foi demais!


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